Doenças
Doença de Wilson: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento
Dra. Michele Patricia Migliavacca
06 de maio de 2021
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A Doença de Wilson é um distúrbio do metabolismo do cobre que pode cursar com alterações hepáticas, neurológicas e psiquiátricas. A idade de apresentação dos sintomas pode variar desde a infância até a vida adulta.
Vamos entender um pouco mais sobre esta doença?
O que é Doença de Wilson?
A Doença de Wilson é um erro inato do metabolismo com herança autossômica recessiva. O gene ATP7B é responsável pela maioria dos casos, sendo que o diagnóstico molecular é caracterizado por variantes patogênicas bialélicas neste gene, ou seja, ambas as cópias deste gene apresentam trocas de letras que levam a alteração do seu funcionamento.
Este gene codifica uma proteína que tem a função de exportar o cobre de dentro das células para o plasma e ele é expresso predominantemente em células do fígado e dos rins. Este processo é particularmente importante em uma célula do fígado chamado hepatócito e na excreção do cobre para a bile. Sem este transporte adequado o cobre, que se acumula na célula, leva à lesão do tecido e subsequentemente à hepatite.
Quais são as causas da doença?
Esta doença tem herança autossômica recessiva, ou seja, ela acontece quando ambas as cópias do gene ATP7B não funcionam corretamente. Existe uma variante que pode estar presente em até 70% dos pacientes de origem européia, conhecida como p.His1069Gln, e está associada com idade de início dos sintomas por volta dos 20 anos de idade, com alterações neurológicas e hepáticas.
Sintomas de Doença de Wilson
A Doença de Wilson apresenta heterogeneidade fenotípica, sendo considerada um espectro que pode envolver sintomas hematológicos, hepáticos, neurológicos e psiquiátricos.
Abaixo listamos os possíveis acometimentos:
Hepático:
- icterícia recorrente
- hepatite auto-imune
- hepatite fulminante
- Doença hepática crônica
Neurológico:
- Alterações motoras como tremores, coreia e dificuldade de coordenação;
- Distonia, alterações da marcha e rigidez;
Psiquiátricas :
- Depressão
- Fobias
- Compulsão
- Comportamento anti-social
Oftalmológicas :
- Anéis de Kayser-Fleischer: que resulta do depósito de cobre na membrana de Descemet na córnea. Estes anéis não afetam a visão e tendem a desaparecer com o tratamento quelante.
O que são os anéis de Kayser-Fleischer?
Anéis de Kayser-Fleischer resultam do depósito de cobre na membrana de Descemet na córnea. Estes anéis não afetam a visão e tendem a desaparecer com o tratamento quelante.
Como diagnosticar a Doença de Wilson?
O exame molecular confirma o diagnóstico da doença de Wilson através do sequenciamento do gene ATP7B.
Deve-se suspeitar de Doença de Wilson nos pacientes que apresentarem :
- Doença Hepática e/ou alterações neurológicas, psiquiátricas, anéis de Kayser-Fleischer;
- Estes sinais juntamente com os achados bioquímicos :
- baixos níveis séricos de ceruloplasmina;
- Cobre sérico normal ou elevado
- altos níveis de cobre urinário (urina de 24 horas)
Estes sinais são praticamente patognomônicos da doença, ou seja, confirmam a doença.
Como eliminar o excesso de cobre no organismo?
Existem substâncias que podem aumentar a excreção de cobre na urina e são chamadas de quelantes. Estas substâncias são a primeira linha no tratamento da Doença de Wilson. A orientação dietética também é importante, evitando alimentos que apresentam maior concentração de cobre, como chocolate e frutos do mar.
O que o excesso de cobre pode causar?
O excesso de cobre nas células, principalmente no hepatócito (célula do fígado), leva à lesão do tecido. Esta lesão interfere no funcionamento normal do órgão, podendo levar a disfunções de diversos graus como icterícia recorrente, hepatite auto imune e hepatite fulminante.
Tratamento de Doença de Wilson
O tratamento da Doença de Wilson tem como objetivo diminuir o depósito de cobre, podendo ser feito com o uso de substâncias quelantes, dieta e uso de antioxidantes. Em alguns casos, dependendo do grau de comprometimento hepático, um transplante de fígado pode ser indicado.
Doença de Wilson tem cura?
Atualmente não existe uma cura para esta doença, mas sim tratamento para a doença. Este tratamento deve ser mantido de forma contínua, e o monitoramento das complicações deve ser realizado de forma periódica.
Exames genéticos e aplicações
O diagnóstico molecular confirma o diagnóstico da Doença de Wilson e pode ser principalmente útil nos casos onde há suspeita mas o quadro clínico não é tão característico.
O exame genético também permite a identificação de familiares assintomáticos que ainda não apresentam sintomas da doença.
Nestes casos o sequenciamento do gene ATP7B é indicado.
Dra. Michele Patricia Migliavacca